INTRODUÇÃO
No contexto contemporâneo é notória a relevância que o trabalho tem na vida das pessoas, a sociedade é movida, de forma basilar, por meio da construção da produtividade em decorrência da atividade laboral. As transformações ocorridas no século XIX e início do século XX, trouxeram uma dinamicidade diferenciada na relação entre trabalho e o homem, as distintas formas de organização do trabalho, acarretaram em mudanças na subjetividade do trabalhador, subjetividade essa que muitas vezes foi haurida diante da demanda pela produtividade.
Apesar do desgaste que o trabalho proporciona, é por meio dele que o indivíduo constitui a sua identidade e ratifica a sua presença no mundo. É muito comum quando o sujeito se apresenta à sociedade, informa seu nome e em seguida é apresentada a sua profissão. Isso dimensiona a posição na qual esse sujeito vai se colocar diante das relações interpessoais e a marca que ele vai imprimir no seu meio.
Destarte, a profissão é um meio pela qual o trabalho é realizado, é a organização instituída do trabalho, a palavra trabalho deriva do latim tripalium que era um instrumento de tortura constituída por três paus.
Partindo dessa premissa, trabalhar, à luz da sua etiologia, traz um sentido de ser torturado. A partir dessa conceituação, pode-se lançar a seguinte problemática: é possível amar o trabalho por meio de escolha de uma profissão, mesmo com as adversidades que essa profissão pode trazer?
O fato é que é possível amar uma profissão, apesar das intempéries, inclusive o amor pela profissão pressupõe encontrar um sentido nessa profissão, por mais que haja as dificuldades inerentes em qualquer profissão.
Apesar da concepção que o trabalho, em sua etiologia, deriva do sofrimento, com o passar do tempo, seu conceito foi sofrendo alteração, não estando atrelado à tortura em si, como era relacionado a aplicação da força física para a produção, que eram realizadas por trabalhadores como os artesãos, pedreiros, agricultores dentre outros, passando a ganhar novas nuances com o passar do tempo, passando a assumir uma dimensão mais generalista, e atualmente é concebido como a aplicação dos talentos, das habilidades e competências humanas para o atingimento determinadas finalidades.
A escolha de uma profissão é tão relevante que vários são os setores da sociedade que pressionam a pessoa na escolha de uma profissão. A escola e a educação, por exemplo, já são orientadas para que o jovem estude no sentido de formar pessoas para a escolha da sua profissão, e para o seu trabalho. Na família, há uma pressão para que o jovem, adolescente escolha logo a sua profissão.
Apesar dessas pressões, não há como negar que é no mundo do trabalho que a pessoa tem a capacidade de se desenvolver, de se realizar, de se tornar um ser ativo apesar das adversidades, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade de forma mais justa.
DESENVOLVIMENTO
As pressões em decorrência de um mundo que está cada vez mais competitivo, capitalista, fazem com que as organizações se posicionem de forma a responder as demandas de diversas ordens. Diante disso, se faz necessário que o profissional tenha estratégias e elementos para lidar com essas adversidades do cotidiano laboral, e uma delas, é fundamental, e que é evidenciada aqui no âmago dessa discussão: o amor ao trabalho.
Se de um lado, há discussões e críticas em relação a isso, que nem sempre é possível amar o trabalho dentro de um contexto onde relações de trabalho estão cada vez mais competitivas, e que nem sempre é possível amar a profissão, tendo em vista que para muitos, a profissão escolhida foi a única possibilidade de escolha, entretanto outros tem como fazer um percurso diferente, onde a escolha da profissão foi realizada com base no Amor à profissão.
Antes de tudo, é necessário compreender a etiologia da palavra Amor, embora não se tenha uma conceituação fechada acerca do seu conceito, os filósofos já abordavam acerca dessa temática trazendo vários modelos explicativos para dar conta de sistematizar algo tão abstrato e tão íntimo da natureza humana que é o amor.
Segundo o Aurélio (2018) o Amor é: “Coisa que é objeto desse entusiasmo ou interesse”; “Entusiasmo ou grande interesse por algo”; “Coisa que é objeto desse entusiasmo ou interesse”.
Logo, o amor é um sentimento de afeição, afeto, orientado à algum objeto, na qual instiga o interesse da pessoa.
Já a palavra profissão, deriva do latim professio: declaração, exercício. Para Veiga, Araújo e Kapuziniak (2005, p. 25) “a profissão é um ato específico e complexo, e diz respeito a um grupo especializado, competente. Nesse sentido, um grupo profissional é formado por pessoas que se mantem unidas por uma identidade ética e por uma ética comum. ”
Assim, a profissão pode ser considerada uma atividade que requer conhecimentos técnicos especializados, ou pode depender de habilidades e competências, uma profissão está associada a uma ocupação, ou seja, uma atividade que visa a produtividade do indivíduo, onde ele a realiza dentro do contexto onde está inserido.
A dinâmica da atividade laboral, com o avanço tecnológico por um lado auxiliou, sistematizou o trabalho e minimizou custo, e aumentou a produtividade, flexibilizou a informação à comunicação e ficou mais próximo do cliente, de um outro lado, essa mesma tecnologia faz com que as pessoas tenham uma nova forma de relacionamento com o seu trabalho, expandindo até a sua atividade laboral para sua vida. Dentro desse viés pode-se entender o amor pela profissão surge como uma possibilidade de lidar com essa diversidade de uma maneira mais adequada permitindo ao sujeito à profissional harmonização em relação ao sofrimento e o desprazer que é do próprio trabalho.
O trabalho vai fazer com que o indivíduo consiga ressignificar as suas atividades fazendo com que ele se posicione de maneira mais assertiva as situações e adversidades que a sua profissão pode trazer. Se para uns amar a profissão é algo utópico e o tanto que é ilusório, para outros é a partir do Amor à profissão que o trabalho pode ser realizado de uma forma plena, onde a pessoa pode colocar na sua profissão toda a sua expectativa, o seu sentido no fazer da sua atividade.
Sabe-se que é por meio do trabalho, da profissão, que a pessoa exerce dentro das dinâmicas organizacionais, empresariais ou qualquer outro contexto laborativo, que a produtividade é possível, e outra questão que surge é como é possível empreender o amor em algo tão técnico, mecanicista e que demanda do profissional, muitas vezes, estresse, ansiedades e medos, ou seja, como é possível trazer algo tão abstrato (amor) para algo tão pragmático (profissão), a resposta para isso pode ser compreendida a partir do momento que essa tecnicidade pode ser melhor realizada a partir do amor que nele é empreendido.
O amor à profissão tem sido cada vez mais na contemporaneidade sendo um tema de destaque inclusive, muito se tem avançado nas orientações profissionais para que os indivíduos escolham, o melhor sua profissão de acordo com as suas aptidões ou orientações, pois acredita-se que a partir do momento que essa escolha é assertiva maiores e melhores são as possibilidades de profissional que mais eficiente.
Ter o amor e o prazer pelo trabalho é compreendido como fundamental e essencial para que os profissionais busquem o seu aprimoramento, seu crescimento, sua ascensão ou até mesmo tenha a sua capacidade de autorrealização.
Embora, para Marques (2017), o amor não deve ser considerado, uma via una para escolher uma profissão, ele entende que “fazer aquilo que se gosta é importante. Ter amor ao trabalho, porém, não é o suficiente para guiar a sua carreira. É preciso levar em conta outros fatores na hora de escolher uma carreira profissional.”
Ainda segundo o autor, para além dessas afinidades com uma profissão é necessário que se avalie as competências e habilidades assim como o potencial que eventualmente a pessoa precisará desenvolver para crescer na carreira escolhida, nem sempre o amor à profissão vai ser o elemento chave e fundamental para sustentar a pessoa na carreira que ela escolheu. “Além das afinidades com a possível carreira, é preciso avaliar as habilidades que você tem para desempenhar as funções existentes na profissão, assim como seu potencial para desenvolver as habilidades necessárias para que você cresça e se destaque nesta carreira”.
Passadori (2012) afirma que “metade do tempo de nossas vidas é dedicada ao trabalho. Por meio dele temos a chance de nos realizarmos e darmos a nossa contribuição para fazer do mundo um lugar melhor [...]”.
Escolher a profissão, por amor, é fundamental, mas claro que se faz necessário avaliar as variáveis, antes de tomar uma decisão por uma profissão, ou até mesmo, mudar de profissão. Uma profissão praticada com amor, é fruto de uma decisão racional por parte do profissional, a grande questão é saber equilibrar o amor à profissão e os demais fatores que vão impactar diretamente no seu cotidiano e até mesmo, o amor pode ajudar o profissional a passar por cima das adversidades, adquirindo resiliência.
CONCLUSÃO
As transformações ocorridas nos últimos séculos trouxeram mudanças significativas e expressivas nas formas como as pessoas lidam com o seu trabalho e com a sua profissão. Se antes, havia uma visão mais técnica do trabalho e a profissão era uma obrigação, atualmente essa concepção muda, trazendo a afetividade para o campo do trabalho.
Dessa forma, o amor passou a ser discutido, dentro de uma linha controversa, embora ainda se coadune que é amor é importante e fundamental para que o profissional consiga se destacar dentro do seu trabalho. É comum que muitos profissionais, atualmente não estejam satisfeitos na sua área de atuação e a insatisfação com a sua profissão das traz uma série de repercussões negativas seja para o próprio profissional combinando e a doença psicossomáticos seja para a produtividade da organização.
Um profissional que não está satisfeito, e que principalmente não ame a sua profissão, pode ou tende a não ser tão produtivo, quanto alguém que empreende motivações, amor e afeto para o com seu trabalho, a partir do momento que o profissional tem no seu trabalho o sentido para o fazer a sua identidade, a sua constituição da personalidade e a forma como ele vai ser estabelecer com os outros, por meio da afetividade da colaboração, e de prestar o melhor serviço à sociedade, mais produtivo será.
REFERENCIAS
AURÉLIO. Dicionário do Aurélio Online 2018. Disponível em: . Acesso em: 28 de Mar 2019.
MARQUES, José Roberto. Afinal, ter amor ao trabalho é o suficiente para guiar a minha carreira? Disponível em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching-carreira/amor-trabalho-suficiente-guiar-carreira/ > Acesso em 28 de mar. de 2019.
PASSADORI, Reinaldo. Amor à profissão. 2012. Disponível em : < https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/colunistas/reinaldo-passadori/amor-a-profissao/ > Acesso em 28 de mar. de 2019.
VEIGA, I. P. A.; ARAÚJO, J. C. S.; KAPUZINIAK, C. C. Docência: uma construção ética. São Paulo: Papirus, 2005.
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